POVO: Cine Idéia no Ensaio Aberto

Filme;
Religião e Violência contra as mulheres

O filme aborda a origem da violência contra as mulheres. A religião patriarcal e sua simbologia são mostradas no filme como uma forma de violência simbólica que acaba culminando para violência física e psicológica. A relação desigual de homens e mulheres na dinâmica machista aponta reflexões em torno dos papéis construídos socialmente. A força, raiva, agilidade, inteligência e etc, são papéis voltados para a construção dos homens. Já para mulheres os papéis ficam em torno do cuidado, do amor, da delicadeza, fragilidade e etc. Questionar estes papéis é fundamental para iniciar a destruição desta lógica violenta de relações para ambos os sexos. Havia em torno de trinta e cinco pessoas, na grande maioria jovens que estão inseridos na cultura hip hop e alunos da escola. A conversa acabou aprofundando nos diversos níveis, desde a construção de homens e mulheres, a questão racial e o sistema enconomico capitalista. Dentro do grupo havia oito mulheres e elas relataram questões importantes como: a relação desigual dentro da família, o tratamento que se dá para as filhas e para os filhos, os meninos acabam tendo mais liberdade para sair. Outro relato foi em relação a mídia e sua força dentro das mentes da população. Como a mídia acaba banalizando a violência, a mídia mostra a violência doméstica, mas raramente traz uma solução ou algum questionamento. Outras relataram a relação dentro do movimento hip hop e como é difícil resistir e continuar cantando rap, sendo mulher dentro da cultura machista. Como para as mulheres a família acaba tendo um peso maior e dificultando a participação mais ativa delas dentro do movimento.
Uma questão levantada foi: Porque as mulheres acabam desistindo muito cedo em continuar cantando, dançando ou pintando? Entre várias reflexões entramos num consenso de que as mulheres acabam se sujeitando há algumas imposições. Mas estas imposições não vêem sozinhas, elas são bombardeadas constantemente por todos os lados e temos que tomar cuidado para não acabarmos reproduzindo esta mesma lógica. As mulheres não desistem porque é uma livre escolha e sim pelas imposições, que passam por questionamentos internos até questões práticas como a responsabilidade de ser mãe e a dedicação que ela carrega.
Os homens relataram como sofrem o impacto destas construções e como é difícil quebrar estes padrões. Os amigos cobram uma postura dos homens e a família também e muitas vezes a escola reproduz esta lógica. A influência da mídia também é marcante. Para os homens negros esta masculinidade fica mais evidente. Um dos participantes relatou que por homens negros sofrer com o racismo eles tem que impor um poder, e o poder que foi concedido para ele é a força bruta. Há uma divisão entre homens brancos e negros, homens brancos ficam com o intelecto e homens negros com o trabalho manual. Isso explica o porque destes mitos em cima dos homens negros de ser "mais forte, de agüentar mais peso", estes são aspectos impostos através do processo de escravidão.
A reflexão se deu também em relação as mulheres negras, como para elas esses estereótipos são colocados para ficarem mercê do racismo e do machismo. A sexualidade das mulheres negras é colocada como algo "selvagem e interminável". É como se as mulheres brancas fossem "mais puras" e as negras "servissem apenas para o desejo sexual dos homens" e neste caso homens brancos teriam mais poder nesta relação desigual.Foi falado da indústria da mídia, como o racismo e machismo está presentes nos filmes e que poderíamos aprender com a organização de autônoma e não ficar sempre tentando nos inserir dentro deste mercado. Com o horário estourando finalizamos as reflexões. Foi interessante saber que mais pessoas estão dispostas a mudar esta lógica que nos oprime e que a mudança não está distante, está em nossas mãos.

Ana Clara
Grupo de Intervenção Feminista Maçãs Podres

abaixo algumas fotos do dia durante o "Cine Idéia".